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A lenda de paixão que deu origem ao nome Fátima

abril 23, 2020 2:19 pm

A Moura Fátima Oureana, créditos Ana Oliveira

A cidade de Fátima recebeu em 2019, 6,3 milhões de peregrinos, segundo dados indicados pelos serviços do Santuário. Se calhar foi uma dessas pessoas ou está a pensar visitar esta terra maioritariamente de conotação religiosa, mas que tem uma história anterior às alegadas aparições de 1917, ligada a uma paixão, que também vale a pena conhecer.

Fátima, atualmente com 11.600 de população total, tinha poucos milhares de habitantes até 1917. Apesar de hoje a cidade ser um marco do catolicismo mundial, o seu nome – o que lhe dá a identidade única – tem origem árabe, de acordo com os especialistas em toponomástica «É uma etimologia confirmada, independentemente da antiga tradição (portanto, muito anterior às aparições), segundo a qual no século XII, quando ainda a região era disputada entre cristãos e muçulmanos, uma nobre moça sarracena, chamada Fátima em honra da filha do profeta Maomé, filha do governador do castelo de Alcácer do Sal, foi envolvida num encontro entre ambos os grupos. Um célebre paladino, cavaleiro templário da Reconquista, Dom Gonçalo Hermingués (conhecido como Traga Mouros), dela se enamorou e casou, depois de ela se converter ao cristianismo e se batizar com o nome Oureana. Infelizmente, o tão belo amor que existia entre os dois foi logo interrompido pela morte prematura da jovem».

Ilustração da princesa Oureana

Nos tempos antigos, a esperança média de vida podia ser muito baixa em comparação com a modernidade, mas o amor que luta contra preconceitos, indiferente às origens e à religião de cada um sempre existiu. Na lenda de Oureana, o apaixonado D. Gonçalo não ficou imóvel a chorar a morte e fazer o luto da sua princesa. Segundo o blogue Virgem Imaculada, «Inconsolável com a sua dor, abandonou as armas fez-se monge na abadia cisterciense, hoje mosteiro de Alcobaça, onde conseguiu sepultar os restos mortais da esposa tão amada.

Depois de poucos anos a abadia fundou um mosteiro a poucos quilómetros do local e para ele enviou Dom Gonçalo como seu superior. Mais uma vez foi concedido ao ex-líder guerreiro que não se separasse dos restos de Fátima, que foram mudados e depositados na nova igreja da localidade», até então um local despovoado, e que agora recebeu o nome daquela que, nascida muçulmana, havia se tornado uma exemplar esposa cristã. O mosteiro, depois de muito tempo, desapareceu, mas até hoje está de pé a pequena igreja, dedicada a Nossa Senhora, onde teria sido enterrado o corpo de Fátima.

Assim, do nome Oureana teria surgido Ourém e de Fátima a povoação com o mesmo nome. Mas como qualquer lenda não se pode provar a veracidade da mesma. Uma lenda é isso mesmo, uma narrativa de carácter maravilhoso, em que factos históricos podem ou não ser deformados pela imaginação popular. Mas se as mesmas às vezes são irreais, frequentemente contêm fragmentos de realidade, o que se pode aplicar a esta lenda, ainda não muito conhecida, de Fátima.

Além do romantismo associado à criação da identidade desta cidade, pode ler-se ainda no mesmo blogue, que foi no planalto de Fátima, na vigília da Assunção de 1385, que o rei João I e o beato Nuno de Santa Maria Álvares Pereira (1360-1431), “herói nacional e santo”, como Santa Joana d’Arc, conseguiram uma prodigiosa vitória contra os espanhóis invasores, depois de terem feito publicamente um voto a Maria. Alegadamente, 532 anos depois, exatamente ali, naquele lugar sagrado para a nação lusitana, aparece Maria, precedida pela tríplice aparição da misteriosa criatura que se intitulou a si mesma de “O Anjo de Portugal”.

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